a mão e o peão.

Sunday, September 23, 2012

23 de setembro de 2012.
Nada é para sempre. Já sabes isso.
Mesmo quando acordas e adormeces com a mesma imagem na cabeça, lágrimas que se sucedem e a água do chuveiro arrasta. Mesmo quando as palavras e as gargalhadas dos outros são como música muito alta para não ouvires o zumbido nefasto, a voz que mora dentro de ti, num quarto fechado à chave, cuja porta ele escancarou. Mesmo quando é a comida que engoles que disfarça o acre que tens na língua, mesmo quando os abraços dos amigos te aquecem a pele e o calor não desce.
Nada é para sempre.
O sol nasce todos os dias. É incrível, muito incrível.
O sol nasce todos os dias.

Thursday, March 26, 2009

inspiração

chega de cantar o fado: toca a sambar!

Wednesday, January 21, 2009

contabilidades

jóhann é um homem simples. aprecia de igual maneira o toque da lã e o sabor do azeite, ambos melhores e mais completos em dias de frio e solidão. e porque a solidão é sempre fria, excepto quando é quente. jóhann não é um homem só, vive num prédio, um casal de meia idade no terceiro andar, uma viúva no primeiro, apontamentos concretos que o isolamento sonoro não condena ao esquecimento. não se sente especialmente ligado a uma nação, à ideia artificial de que uma latitude e longitude específicas, já de si artificiais, cristalizam uma forma de olhar o mundo. claro, jóhann tinha uma língua e todos o compreendiam falando, excepto quando ele não se fazia entender. a sua língua era a de outros milhões, uma língua sem acentos nem juxtaposições, à imagem de um líder político que nunca se engana e diz sempre o que pensa. excepto, naturalmente, quando não pensa o que diz.
por vezes, jóhann, que vive num segundo andar, como se deixou suficientemente subentendido atrás, num segundo andar a meio caminho descendente entre o desencanto e a lucidez fria da solidão - ninguém visita a viúva, perdida, estranhamente contida, entre mantas ásperas e aquecedores a óleo -; por vezes, dizia-se, jóhann interroga-se se esta língua aceite, como um texto bíblico, unirá de facto aqueles que a usam, com a indolência de uma certeza inquestionável. vai mais longe, entretido a mastigar folhas de manjericão, questiona-se se realmente precisamos de uma língua. não são precisas palavras para saber que à viúva lhe dói a ausência, mesmo entretida com os botões do aquecedor a óleo; que ao homem e à mulher de meia idade, lhes dói o hábito, os mesmos bons dias, boas noites e dorme bens dos últimos anos, que não consolidou o que sentiam e só tornou tudo mais esparso. assim como sem fonemas, o azeite é ainda o sabor milenar e a lã o mais doce dos pastos.
jóhann é um homem simples, excepto quando se torna complexo. e perde-se em palavras que perdem a fertilidade assim que ganham som. em meio à solidão, os sons são assim, escusados. o chão da sua casa é frio e jóhann circula sempre calçado.

Thursday, January 15, 2009

um homem

if a bullet should enter my brain, let the bullet destroy every closet door.

check out "milk", new gus van sant movie about the political life and death of harvey milk, starring sean penn. may flags be risen and voices be heard so that one day justice and appreciation of difference may prevail in this garden of eartlhy delights.
desculpem o tom profético, deu-me pra isto...

Wednesday, January 07, 2009

constatação

and old issues just can't seem to let go of you.

Thursday, November 27, 2008

antecipação

and then, a brand new path ahead.

Monday, November 17, 2008

epifania

when there's nothing left to burn,
you have to set yourself on fire.

"your ex-lover is dead", a song by Stars.